
Escrito por Lygia Bojunga, "A casa da madrinha" conta a história de Alexandre, menino pobre, morador da favela carioca, que parte numa viagem em busca da casa de sua madrinha. A realidade do menino é opressora: a família o pressiona a deixar a escola (um dos poucos espaços em que o menino alimentava sua imaginação) para vender guloseimas na praia e assim ajudar com o orçamento familiar, que cada vez mais se aperta. O maior amigo do menino é Augusto, o irmão mais velho, que o apóia e faz de tudo para manter o menino na escola. Mas chega a hora em que não dá mais para protelar isso, e Alexandre deixa a escola. Então, numa conversa, Augusto conta para o irmão da existência de uma madrinha que o menino não conhecia. Essa madrinha tinha uma casa maravilhosa, onde se realizam todos os desejos. Uma casa com conforto, num lugar bonito e alegre, onde há tempo de sobra para brincar e ser feliz. Não se trata de uma simples casa, e sim de um convite à fantasia; à fantasia que a realidade dura tenta ofuscar.
Quando o irmão Augusto troca de cidade por conta do trabalho, Alexandre se sente sozinho, já que seu ambiente familiar é de pouco diálogo. Assim, decide partir em busca de seu sonho. Joga tudo para o alto e parte.
E parte sozinho. E sem medo. No caminho, seu destino se cruza com o Pavão, bicho curioso, que tem uma história tão difícil como a do menino.
Bojunga, com sua linguagem dinâmica, abre a história com Alexandre e Pavão já na estrada, fazendo shows para arrecadar comida e dinheiro. No show eles conhecem Vera, menina que vive em realidade bem diversa (área rural, com um ambiente familiar estável, economicamente). Para Vera -que mesmo diferente de Alexandre, compartilha dos mesmos sonhos e desejos que ele - o menino vai contando a sua história e a do Pavão. Alexandre é um menino de histórias. E Lygia Bojunga também: faz desfilar diante do leitor uma gama de personagens curiosos como a Gata da Capa, o Seu Joca do pandeiro entre outros.
A autora usa o recurso fantástico em sua narrativa (há o Pavão e a Gata que falam, os meninos inventam coisas com o pensamento) e faz muito bem, pois é disso que se trata a busca de Alexandre: da busca da fantasia, do encontro consigo mesmo, do encontro com o menino sonhador e criativo que ele é. A viagem de Alexandre não se trata de uma fuga, de uma alienação. Buscar a casa da madrinha (que o irmão Augusto define como uma graça de lugar, uma casa mágica, onde os desejos se realizam) é buscar a fantasia. E a imaginação, a fantasia nada tem de alienação. Quem se aliena cai no nada, ou no escuro (em dado momento, Alexandre, Vera e o Pavão se defrontam com o escuro e eles o vencem). E quem fantasia vive outro mundo, recria a realidade.
E ao recriar a realidade, eles amadurecem. Aprendem. Trata-se uma viagem em busca da fantasia que não deve nunca adormecer nas pessoas. Ao dizer isso, estou falando da viagem de Alexandre e seus amigos até a casa da madrinha, mas essas palavras servem também para outra viagem: a viagem fantástica que faz quem lê “A casa da madrinha”, de Lygia Bojunga.
Eu já fiz essa viagem. E foi muito boa. :D
ResponderExcluirAdoro Lygia!- li "A casa da madrinha" o ano passado- E já a tenho entre as minhas escritoras preferidas. Gostei muito de "Corda bamba" e "Angelica" também. Legal vc ter falado sobre este livro, Eduardo.
Beijo!
=D
ResponderExcluiresse teu texto me lembrou do livro que tô lendo, "o imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica", da jacqueline held.
ResponderExcluirtambém gosto dos escritos da lygia.
muito.
abraço aê!
eu ja desenvolvi um projeto litarário com alunos de 4a série. Foi muito bom, os alunos participaram ativamente, Incrível!
ResponderExcluir