sábado, 5 de setembro de 2009

Afinal, quem está no front de batalha?

CALI, Davide & BLOCH, Serge. O inimigo. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

Esta obra singular de Davide Cali e Serge Bloch traz um texto leve e belo. Palavra e imagem se convergem, e seguem além do diálogo entre frases e ilustrações.

Os personagens são dois soldados que estão em uma trincheira no front de batalha. O livro retrata com minúcia as condições físicas e psicológicas destes soldados: a comida é escassa, a comunicação com o mundo é rara e esse isolamento torna-os inseguros e depressivos.

Ao descrever o inimigo, o soldado-narrador afirma que a única coisa que os dois têm em comum é a fome. “As diferenças entre nós são enormes. Ele é um animal selvagem, não conhece a piedade. Ele mata mulheres e crianças.” Esse trecho vem acompanhado de um desenho disforme, na cor vermelha, representando a idéia confusa que o soldado faz do inimigo: “O inimigo não é um ser humano.”

Os responsáveis pela guerra treinaram seus soldados por meio de um manual que supostamente contêm tudo o que eles devem saber. Nas ilustrações, o manual destaca-se pela cor vermelha e há informações de como e porque o soldado deve liquidar seu inimigo. Ou seja, a guerra é executada por aqueles que não conhecem seus inimigos e obtém informações arbitrárias de um militar superior.

Os soldados refletem sobre a guerra. Sabem que ela “não serve para nada e que é preciso terminá-la.” Somente “os que comandam” sabem como acabar com aquele conflito, mas eles ficam distantes do front – onde a guerra acontece – e nem imaginam como é urgente o seu fim. Eles simplesmente ordenam; nunca terão de conviver com a dor de ter tirado uma vida.

No trecho em que o soldado decide acabar com o confronto, indo disfarçado ao buraco do inimigo para matá-lo e finalmente voltar para casa e rever sua família (não pelos ideais do seu país), ele encontra um leão. Mas esse leão na verdade era seu inimigo disfarçado.

Ao chegar no buraco do inimigo e ver que está vazio, o narrador percebe que eles têm os mesmos mantimentos e o mesmo manual que diz que o inimigo a ser combatido é perigoso e cruel: “Mas eu não sou assim, não sou um monstro.”

Enfim o soldado descobre que seu inimigo também quer somente acabar com a guerra e voltar para casa. Eles são iguais. Ambos querem paz e não concordam com a guerra. Então, por que lutam?

As fotos presentes nas ilustrações são reais, pois devem existir soldados iguais aqueles do livro, que são desenhos e fazem parte de um universo fictício. O leitor relaciona a história com a realidade, com o mundo. O livro proporciona reflexão fazendo com que o leitor possa modificar sua visão de mundo.

Nunca haverá justificativa para uma guerra, pois vidas inocentes sempre serão sacrificadas em prol de um ideal insano. Todas as guerras são cruéis e desumanas; líderes a levantam, empresas a financiam e quem morre são homens, mulheres e crianças inocentes. Como o autor diz no início do livro, a guerra que continua é só uma: a guerra do homem contra a fascinação pelo poder.
(Daiane da Silva)

4 comentários:

  1. Parabéns...bons textos
    adorei conhecer o blog
    sucesso!!!

    parei aqui por intermédio do Ítalo Puccini
    Abraços

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  2. vixi, vou te mandar a conta pra efetuar depósito, com tantos leitores que levei a ti =)

    HAHAHAHAHAHAH.

    que bela resenha, daiane!
    parabéns.
    o livro deve ser, mesmo, lindo.

    a sueli nos mostrou um outro no prolij, o menino e a bola. também com a guerra em questão. e com um menino e uma bola. coisa forte. coisa bonita. vasculha que tu acha sobre...

    beijo!

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  3. Obrigada Maeles... seja bem-vinda ao blog.

    E obrigada ao Italo... hehe... como assim... conta pra depósito?!?!?!? ¬¬ (bicho-palha) haha

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