domingo, 17 de janeiro de 2010

algumas palavras sobre literatura adultantil



O que é Literatura Infantil, Infanto-Juvenil? Pergunta difícil. A fronteira entre essa literatura e a adulta existe? Sim. E não.
Bem, é claro que para uma criança, um ser em formação, não faz sentido (geralmente) dar a ela a Odisséia, de Homero, ou quem sabe um romance de Flaubert ou Stendhal. São leituras para adultos, seres já completamente formados fisica e psicologicamente, com experiência de vida, dispostos a refletir sobre suas próprias existências e concepções. O oposto, porém, não ocorre. Uma boa história para crianças, agrada sempre aos adultos. O adulto se encanta com livros de Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga, Roger Mello, Marina Colassanti e tantos outros porque encontram nesses livros uma riqueza de ideias e e sentimentos tão grandes como nos livros de literatura adulta. A literatura, a obra literária, é universal: fala a todos os homens, independente de sua classe, religião ou idade. Assim, ao mesmo que existe essa fronteira, puramente lógica, entre literatura adulta e infanto-juvenil; ela também não existe. Outro caso que pode ser citado nessa discussão, é daquelas obras adultas, que logo caíram no gosto das crianças. Livros como As viagens de Gulliver e Robinson Crusoé são exemplos. Melhor mesmo é dizer que não existe tal fronteira.
E essa discussão nunca deixa de ser pertinente. Dia desses, uma obra reavivou-a em mim: "Avenida Paulista", da arquiteta Carla Caffé. A obra, lançada em 2009 numa co-edição da Cosac Naify com o SESC-SP, é belíssima e retrata, apenas com desenhos, a efervescente avenida paulistana. Com sua experiência de arquiteta, Caffé revisita os pontos turísticos, os prédios e esquinas famosos da avenida, num jogo de linhas, cores e curvas. Simplesmente lindo, o livro. Nos desenhos da autora, sente-se a harmonia desencontrada, oxímoro ideal para definir a paisagem dessa avenida e - why not? - de toda a metrópole paulistana. E este livro, traz em sua ficha catalográfica, a marcação "Literatura Infanto-Juvenil". E aí? Adulta? Infanto-Juvenil? Sim e sim. Obra Universal.
Pra resolver isso, é simples. Arrumem as fichas catalográficas. Literatura Adultantil. Pronto! :)


PS: aos curiosos, há um vídeo no youtube, em que Carla caffé fala um pouco mais sobre o livro Avenida Paulista.

PS: achei umas palavras muito legais do Mia Couto, famoso romancista moçambicano, que também se aventurou a escrever para os mais jovens. No prefácio do seu "O gato e o escuro" (que é uma história linda) , Couto diz: "Não sei se alguém pode fazer livros 'para' crianças. Na verdade, ninguém se apresenta como fazedor de livros 'para' adultos. O que me encanta no acto da escrita é surpreender tanto a escrita como a linguagem em estado de infância." Taí. ^^

Um comentário:

  1. é interessante, sem dúvida, a reflexão que tu propões. e os exemplos que tu dás alimentam bem o texto.

    parabéns!

    um abraço.

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