domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um pouco do trabalho de André Neves

André Neves é um escritor e ilustrador com alguns prêmios na bagagem. Recentemente, tive a oportunidade de conhecer um pouco mais de seu trabalho, lendo 3 livros em que ele é o autor, seja em parceria ou não. O primeiro deles é "Sapato Furado". Este livro reúne poemas e prosas curtas do escritor gaúcho Mário Quintana. É uma antologia (a maioria dos trechos vem do seu maravilhoso "Caderno H") para apresentar Quintana aos mais jovens. O texto por si é lindo, e Neves ainda acrescente ao livro seu grande talento para ilustrar. Moderno, Neves usa e abusa de recortes e colagens: são fotos, selos de cartas, azulejos e jornais. Aliás, o uso de jornais parece ser uma marca pessoal. Nos 3 livros que li, há sempre um recorte de jornal no cantinho de alguma ilustração.




Outro livro que André Neves ilustrou foi "Laranja Pera Couve Manteiga", cujo texto é de Maria Amália Camargo. O que gosto nesse livro, como vocês podem reparar, é o modo como a edição apresenta os autores: Amália e André, lado a lado. A maioria dos livros infanto-juvenis ainda põe o ilustrador em posição secundária, como se a iustração fosse um mero complemento do texto, e não é bem assim. Perdoem o clichê, mas texto e imagem são suas linguagens que dialogam, cada uma contando a história a seu modo. A união destas duas forma o belo livro que o leitor tem em mãos. Quanto ao livro, este é muito bom: em rimas, Amália retrata com muito bom-humor um dia de feira. Para isso, ela brinca com as palavras, especialmente os substantivos compostos, como aqueles do título do livro. Essa brincadeira inteligente, esse jogo com palavras, é sinônimo de bom livro quando falamos em Literatura Infanto-Juvenil. Em resumo, este é um livro muito bem-humorado, ilustrado com a mesma graça com que foi escrito.




Já em "A caligrafia de Dona Sofia", os créditos são todos de André Neves: ele escreve e ilustra essa história carregada de poesia. Dona Sofia é uma senhora que mora, sozinha, no alto de um morro de um pequeno vilarejo. Sua grande distração é sua paixão pela poesia. Sua casa é toda enfeitada, cheio de poemas escritos na parede. Eis a oportunidade ideal para André (que também é poeta) encher as páginas com belíssimos versos: é Ronald de Carvalho, Pessoa, Drummond, Lorca, Emily Dickinson e tantos outros. Dona Sofia também gosta de distribuir poesias à população, em pequenos cartõezinhos, com ajuda do carteiro, seu Ananias, que se apaixona pela poesia através da simpática senhora. Mas além de todos esses versos, há a poesia da história que Neves conta, a cumplicidade do carteiro Ananias e da Dona Sofia, ambos amantes das palavras. Essa amizade deságua num bonito final, que nos recorda que, além da poesia dos grandes artistas, dos grandes escritores, há a poesia nas coisas simples, nas pessoas simples. E isso nos lembra os versos de outro grande poeta, Oswald de Andrade: "Há poesia/Na dor/Na flor/No beija-flor/No elevador" Esse "A caligrafia de Dona Sofia" é um livro cheio de poesia, e que pede ainda mais poesia. Recomendadíssimo, como são recomendados os outros dois títulos citados nessa postagem.




Bem, e para quem deseja conhecer um pouco mais do trabalho dele, há o seu blog, o Confabulando Imagens. ^^

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