
Os livros de Clarice para criança foram escritos, inicialmente, para seus filhos. E, olha, nem parece a clarice, a genial clarice dos livros "adulto": são muito fraquinhas, as histórias. São boas, acho que dá pra fazer uma contação de histórias bem bacana a partir delas [e a própria clarice sugere isso, como se verá], mas deixo claro que eu esperava mais...
Em "O mistério do coelho pensante", que é outro livro dela legal mas não excelente, clarice escreve no início:
"Esta história só serve para criança que simpatiza com coelho. Foi escrita a pedido-ordem de Paulo, quando ele era menor e ainda não tinha descoberto simpatias mais fortes. O mistério do coelho pensante é também minha homenagem a dois coelhos que pertenceram a Pedro e Paulo, meus filhos. [...] Como a história foi escrita para exclusivo uso doméstico, deixei todas as entrelinhas para as explicações orais. Peço desculpas a pais e mães, tios e tias, e avós, pela contribuição forçada que serão obrigados a dar. Mas pelo menos posso garantir, por experiência própria, que a parte oral da história é a melhor dela. Conversar sobre coelho é muito bom. [...]"
A própria autora fala do "uso doméstico" que a história tem. "A mulher que matou os peixes", por exemplo, apresenta uma mulher a defender-se de um 'crime'. "Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu", começa a voz que parece claramente ser a voz de clarice a defender-se, diante dos filhos, do fato de ter esquecido de alimentar o peixinho de um deles durante uma viagem que fez. Em sua defesa, conta algumas histórias de bichos que teve, para demonstrar que tem muito amor pelos bichos. E conta casos de coelhos, cães, gatos, discorre sobre baratas e lagartixas. No final, explica o porque de ter esquecido de alimentar os peixes e pede perdão a seus interlocutores, ou seja, seus filhos.
E a história, apesar de sem bem simples, dá uma contação legal, eu creio. Quando Clarice fala que "deixou todas as entrelinhas para as explicações orais" naquele livro, o mesmo vale para este aqui: a todo momento ela para a narrativa para questionar seus interlocutores, os leiotores [no caso de uma contação, ou ouvintes]. Pede opiniões, pergunta se conhecem determinada expressão e a explica. Isso é uma boa deixa para os contadores narrarem a história, ao mesmo tempo que dão espaço para as crianças explanarem suas ideias. Nem toda história se ajeita bem a essas interrupções dos ouvintes, mas creio que nessa cai bem. Quanto à história em si, esta me parece que fica fraquinha. É boa? é. mas eu esperava mais... Não consigo definir bem o porquê, parece que falta algo, apesar das boas reflexões sobre pessoas e animais. há algo de frágil em seu narrar, algo que não encontramos nos seus romances adultos, que são "dura escritura", como diz uma personagem de "Água Viva".
Ainda sim, recomendo!
são fraquinhas mesmo as histórias infantis dela. não são horrorosas, mas não chegam nem perto da escrita "adulta" dela (gostei do uso das aspas no adulto. tenho-me perguntado muito sobre essas limitações do tipo para crianças, para adultos. mas isso é assunto para outra conversa :))
ResponderExcluirabração!