sábado, 19 de junho de 2010

a escrita de Clarice para as crianças



Os livros de Clarice para criança foram escritos, inicialmente, para seus filhos. E, olha, nem parece a clarice, a genial clarice dos livros "adulto": são muito fraquinhas, as histórias. São boas, acho que dá pra fazer uma contação de histórias bem bacana a partir delas [e a própria clarice sugere isso, como se verá], mas deixo claro que eu esperava mais...

Em "O mistério do coelho pensante", que é outro livro dela legal mas não excelente, clarice escreve no início:

"Esta história só serve para criança que simpatiza com coelho. Foi escrita a pedido-ordem de Paulo, quando ele era menor e ainda não tinha descoberto simpatias mais fortes. O mistério do coelho pensante é também minha homenagem a dois coelhos que pertenceram a Pedro e Paulo, meus filhos. [...] Como a história foi escrita para exclusivo uso doméstico, deixei todas as entrelinhas para as explicações orais. Peço desculpas a pais e mães, tios e tias, e avós, pela contribuição forçada que serão obrigados a dar. Mas pelo menos posso garantir, por experiência própria, que a parte oral da história é a melhor dela. Conversar sobre coelho é muito bom. [...]"

A própria autora fala do "uso doméstico" que a história tem. "A mulher que matou os peixes", por exemplo, apresenta uma mulher a defender-se de um 'crime'. "Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu", começa a voz que parece claramente ser a voz de clarice a defender-se, diante dos filhos, do fato de ter esquecido de alimentar o peixinho de um deles durante uma viagem que fez. Em sua defesa, conta algumas histórias de bichos que teve, para demonstrar que tem muito amor pelos bichos. E conta casos de coelhos, cães, gatos, discorre sobre baratas e lagartixas. No final, explica o porque de ter esquecido de alimentar os peixes e pede perdão a seus interlocutores, ou seja, seus filhos.

E a história, apesar de sem bem simples, dá uma contação legal, eu creio. Quando Clarice fala que "deixou todas as entrelinhas para as explicações orais" naquele livro, o mesmo vale para este aqui: a todo momento ela para a narrativa para questionar seus interlocutores, os leiotores [no caso de uma contação, ou ouvintes]. Pede opiniões, pergunta se conhecem determinada expressão e a explica. Isso é uma boa deixa para os contadores narrarem a história, ao mesmo tempo que dão espaço para as crianças explanarem suas ideias. Nem toda história se ajeita bem a essas interrupções dos ouvintes, mas creio que nessa cai bem. Quanto à história em si, esta me parece que fica fraquinha. É boa? é. mas eu esperava mais... Não consigo definir bem o porquê, parece que falta algo, apesar das boas reflexões sobre pessoas e animais. há algo de frágil em seu narrar, algo que não encontramos nos seus romances adultos, que são "dura escritura", como diz uma personagem de "Água Viva".
Ainda sim, recomendo!

Um comentário:

  1. são fraquinhas mesmo as histórias infantis dela. não são horrorosas, mas não chegam nem perto da escrita "adulta" dela (gostei do uso das aspas no adulto. tenho-me perguntado muito sobre essas limitações do tipo para crianças, para adultos. mas isso é assunto para outra conversa :))

    abração!

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